Como dizia Carlos Drummond de Andrade, "a leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, a quase totalidade não sente esta sede". Baseado nessa frase gostaria de sugerir uma atividade para trabalhar em sala de aula, entretanto, essa aula deve ser utilizada para motivar os alunos a lerem livros de literatura, e através dela, conhecer essa fonte inesgotável de prazer que é a leitura.
E para saciar esta sede oculta em cada aluno, traremos aqui um texto de Antonio Barreto.
Jucinei Rocha dos Santos
MEU PRIMEIRO BEIJO
Antonio Barreto
Antonio Barreto
É difícil acreditar, mas
meu primeiro beijo foi num ônibus, na volta da escola. E sabem com quem? Com o
Cultura Inútil! Pode? Até que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos exatamente o
que era "o beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e
morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim...
Não sei se numa aula de
Biologia ou de Química, o Culta tinha me mandado um dos seus milhares de
bilhetinhos:
"Você é a glicose do
meu metabolismo.
Te amo muito!
Paracelso"
E assinou com uma
letrinha miúda: Paracelso. Paracelso era outro apelido dele. Assinou com
letrinha tão minúscula que quase tive dó, tive pena, instinto maternal, coisas
de mulher... E também não sei por que: resolvi dar uma chance pra ele, mesmo
sem saber que tipo de lance ia rolar.
No dia seguinte, depois
do inglês, pediu pra me acompanhar até em casa. No ônibus, veio com o seguinte
papo:
- Um beijo pode deixar a
gente exausto, sabia? - Fiz cara de desentendida.
Mas ele continuou:
- Dependendo do beijo, a
gente põe em ação 29 músculos, consome cerca de 12 calorias e acelera o coração
de 70 para 150 batidas por minuto. - Aí ele tomou coragem e pegou na minha mão.
Mas continuou salivando seus perdigotos:
- A gente também gasta,
na saliva, nada menos que 9 mg de água; 0,7 mg de albumina; 0,18 g de
substâncias orgânica; 0,711 mg de matérias graxas; 0,45 mg de sais e pelo menos
250 bactérias...
Aí o bactéria falante
aproximou o rosto do meu e, tremendo, tirou seus óculos, tirou os meus, e
ficamos nos olhando, de pertinho. O bastante para que eu descobrisse que, sem
os óculos, seus olhos eram bonitos e expressivos, azuis e brilhantes. E achei
gostoso aquele calorzinho que envolvia o corpo da gente. Ele beijou a pontinha
do meu nariz, fechei os olhos e senti sua respiração ofegante. Seus lábios
tocaram os meus. Primeiro de leve, depois com mais força, e então nos abraçamos
de bocas coladas, por alguns segundos.
E de repente o ônibus já
havia chegado no ponto final e já tínhamos transposto , juntos, o abismo do
primeiro beijo. Desci, cheguei em casa, nos beijamos de novo no portão do
prédio, e aí ficamos apaixonados por várias semanas. Até que o mundo rolou, as
luas vieram e voltaram, o tempo se esqueceu do tempo, as contas de telefone
aumentaram, depois diminuíram...e foi ficando nisso. Normal. Que nem meu
primeiro beijo. Mas foi inesquecível!
BARRETO, Antonio. Meu
primeiro beijo. Balada do primeiro amor. São Paulo: FTD, 1977. p. 134-6.
Extraído de http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=22430
ESTRATÉGIA 1
CAPACIDADE DE COMPREENSÃO: Ativação
de conhecimentos de mundo; antecipação ou predição; checagem de hipóteses.
Inicialmente, apresente a seus alunos a crônica
“Meu primeiro beijo” de Antonio Barreto, entregando uma cópia para cada aluno. Antes
de executar a leitura do texto discuta com os alunos o título e o nome do
autor, levantando conhecimentos prévios através dos seguintes questionamentos:
·
Conhecem algum texto de Antonio Barreto? Já
ouviram falar dele?
·
Alguém já teve o primeiro beijo? Quer
compartilhar com a turma como foi?
·
O que vem em nossa mente quando ouvimos em primeiro beijo?
·
O que você espera de um texto com esse
título?
Provavelmente poucos alunos
conhecerão o escritor Antonio Barreto, por isso seria muito interessante que o
professor falasse um pouco sobre o escritor. Como o objetivo principal é
incentivar os alunos a lerem e se interessarem por literatura, seria muito
importante que o professor fizesse uso de uma boa didática e bom humor,
deixando cada um compartilhar sua experiência, porém, sem perder o foco na
aula.
ESTRATÉGIA
2
CAPACIDADE
DE COMPREENSÃO: Produção de inferências locais; produção de
inferências globais.
A seguir, realize a leitura
em voz alta (Dependendo o nível da classe peça aos alunos que leiam). Durante a
atividade, incentive os alunos a deduzirem algumas palavras desconhecidas ou
contextualizá-las, esclarecendo as dúvidas no final de cada dedução.
Após a leitura, o professor
pode levantar as seguintes questões:
·
O que entenderam do texto? Qual foi a maior
dificuldade?
·
Foi o que você esperava?
·
Teve alguma palavra que dificultou a
compreensão? Qual?
·
Em sua opinião, por que o autor escreve sobre
o primeiro beijo?
·
É possível obter algum conhecimento de mundo
através do texto de Antonio Barreto? Identifique no texto e explique.
ESTRATÉGIA 3
CAPACIDADE DE COMPREENSÃO: Localização
de informações; comparação de informações; generalizações.
Depois de socializada a
compreensão, faça perguntas relacionadas ao gênero textual:
·
Quais as características desse tipo de texto?
·
Quem é o narrador?
·
Em que local acontece?
·
Há marcas temporais? Quais?
·
Quais são as informações mais relevantes?
Após finalizar a atividade,
seria muito importante que o professor levasse os alunos à biblioteca para
retirar livros com temas relacionados, ou recomendasse alguns autores para os
alunos, a fim de que através de uma simples aula muitos se tornassem leitores
assíduos e despertassem interesse pela literatura.